PSICÓLOGO
ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO C.R.P 31341/5- TERAPIA DE CASAL E INDIVIDUAL- RUA ENGENHEIRO
ANDRADE JÚNIOR- 154-TATUAPÉ- SÃO PAULO- SÃO PAULO- FONES: 66921958/ 93883296
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O complexo de inferioridade e
superioridade
Ambos os conceitos que serão
desenvolvidos neste estudo são a parte principal da obra do psicólogo ALFRED
ADLER, primeiro discípulo de FREUD e também o primeiro a romper com o mesmo,
por discordância na supremacia do instinto sexual na modelagem da
personalidade. ADLER achava que o complexo de inferioridade era algo intrínseco
à natureza humana, justamente pela fragilidade da criança perante o ambiente
que a circunda. Sua extrema dependência dos familiares e impossibilidade de
várias coisas acarretavam dito complexo. Em contrapartida desenvolvia fantasias
de superioridade para compensar tal situação desvantajosa. Essa trama ou
binômio (inferioridade-superioridade) acompanhariam o indivíduo pelo resto de
sua vida. Pretendo estudar tais complexos dentro de nossa atualidade e
analisando os fenômenos sociais que os acompanham. O complexo de inferioridade
nasce quando a criança percebe o simples fato de não ser o único objeto do
amor, afeição ou cuidado de seus pais; seja por ter outros irmãos ou os pais
darem atenção a outras tarefas; o ciúme e raiva se desenvolvem bem cedo na criança.
ADLER inclusive achava determinante na formação da personalidade que posição a
criança ocupava no quadro familiar (primogênito, caçula, filho do meio). A
ruptura da condição de não ser única ou do narcisismo infantil traz como
herança a comparação e competição que também nos acompanharão pelo resto de
nossas vidas.
Inferioridade, disputa de poder e
rivalidade formam um dos núcleos centrais da alma humana. Todas visam
originalmente obter atenção e controle sobre um ambiente hostil ou
desconhecido. Seria uma visão completamente equivocada e reducionista achar que
tais fenômenos são apenas reproduções dos processos econômicos e sociais; muito
pelo contrário, o desenvolvimento de tais instintos é que moldará uma
personalidade que mais tarde se tornará ávida pelo poder ou dinheiro. De certa
forma não haveria nenhum problema com a competição e disputa de poder se
paralelamente se desenvolvesse o núcleo da solidariedade como ADLER apregoava. Quantos de nós carecemos daquela figura
generosa que nos mostrasse que uma derrota não é de forma alguma uma humilhação
de nosso íntimo. A ausência de tal instrutor já é o primeiro gerador do
complexo de inferioridade, pois não houve treino ou acompanhante para o
processo da perda.
A
grande questão para o pleno desenvolvimento da autoestima é “regar” na criança
determinada potencialidade que jamais se dissolva no processo social ou da
opinião alheia, sendo a prova máxima da existência de alguma verdade atemporal
carregada por um ser humano e no qual dará um uso mais amplo do que meramente
um ganho pessoal. Esta é a precisa definição do que vem a ser a segurança
pessoal. Pode se iniciar com um mero elogio dos pais perante
uma habilidade do bebê, que no decorrer de sua formação irá entender plenamente
sua tarefa e responsabilidade por ter algo especial. Mas, infelizmente as
coisas não são tão fáceis. Muitas vezes o mestre mais duro em relação ao nosso
dever não cumprido ou falta é a inveja. A mesma sempre nos lembra o incômodo de
talvez o outro crescer mais rápido, trazendo agonia e angústia perante algo que
começamos a desejar e negligenciamos no passado recente. A felicidade é um estado transitório de alienação e afastamento do
complexo de inferioridade, e a infelicidade é a dura recordação da tarefa não
cumprida exposta acima. O complexo de inferioridade coloca a questão de
todo o nosso desenvolvimento nas diferentes etapas da vida perante a opinião
alheia, máximo carrasco de nossa era, adquirindo hegemonia perante nossas ações
e medos. Personagens são então criados para abafar toda esta ansiedade criada. O
que não se tolera é que alguém descubra uma determinada compulsão pessoal que
visa encobrir nosso espírito solitário. Inferioridade
em todos os níveis é sinônima de solidão, rejeição e exclusão.
A
inferioridade mesclada com a solidão é não ter a companhia ou testemunho de
alguém acerca de nossa capacidade de proporcionar êxtase, sendo que se
desenvolve a convicção profunda de não termos nenhuma importância do ponto de
vista pessoal. Solidão e
inferioridade são uma poupança cruel ou economia forçada de afetos, também
dizem do mais extremado medo de não ter uma pessoa que na convivência possa
coibir nossos desequilíbrios. Inferioridade e solidão são o represamento do
poder pessoal, dando uma mensagem incessante de que jamais poderemos
utilizá-lo, acarretando uma espera agonizante para que alguém nos liberte desse
drama. Inferioridade também é o ódio pela expectativa não cumprida. O próprio
mecanismo da compensação já é por si mesmo o complexo de inferioridade; se
utilizar algo ou alguma característica de ênfase pessoal para encobrir ou
facilitar o que se percebe como difícil. Praticamente todos fazem isso, seja
através da estética ou dinheiro, como exemplos. Aliás, estética por si só nunca
foi sinônima de saúde, apenas um determinado modelo que se procura imitar. O
sucesso tão almejado é o mais puro esconderijo de todas as frustrações, e a
humanidade sempre encarou tal questão como um segredo, quando na verdade é o
sentido da vida dentro da estrutura social de competição que se criou ao longo
dos séculos. O sucesso sempre foi protegido ou blindado de sua verdadeira
função ou análise, parecendo que é um tabu denegrir tão cobiçado conceito.
Inferioridade
diz da imagem de um passado não resolvido, turbulento, que está plenamente ao
lado de qualquer prazer ou potencial presente, anulando constantemente o mesmo.
O real não é percebido firmemente, podendo ser invadido a qualquer momento
pelos fantasmas dos infortúnios vivenciados. O medo instintivo do ser humano, que
geneticamente serviu para o instinto de autopreservação se transforma em
corriqueiras cargas energéticas de humilhação ou inferioridade para a pessoa em
questão; é uma espécie de piloto
automático que avisa o indivíduo que o perigo nunca passa, isto é a essência da
fragilidade, sendo que a exacerbação do cuidado é o nódulo central de todas as
fobias que acometem a mente. Mas porque isto acontece, qual sua origem na
infância? Sem sombra de dúvida este pesadelo da inferioridade começou quando a
criança percebeu em algum momento a morte ou perigo de aniquilamento de seu
ego, disparando todas as cargas extras sensoriais, hormonais e psíquicas para
tentar se proteger.
O resultado não é apenas o trauma, mas o
hábito do stress literalmente, quando o assunto é se gostar. O complexo de
superioridade é justamente o oposto disso tudo, não há a necessidade da
preservação, sem limites para o gozo ou exercício do poder. O espaço é da pessoa por natureza, um
monarca com o direito a derramar todo o seu potencial agressivo. Obviamente
para o desenvolvimento de dito complexo, a criança desde cedo foi mimada ou
reforçada em demasia em vários dos eventos nos quais participou, inflacionando
a verdadeira dimensão de seu potencial, e conseqüentemente contribuindo para o
prejuízo de seu senso de comunidade. Não precisamos ir muito longe para
observarmos as crianças e jovens mimados de hoje em dia, verdadeiros tiranos
que exploram a culpa dos pais, lhes forçando ao provimento de todos os seus
caprichos materiais e pessoais. A competição desde cedo invade a mente e alma
destes, sendo que não se enxerga o verdadeiro valor de outro ser humano, apenas
utilizando o mesmo contra a solidão ou o pânico da exclusão. A solidão é também
extremamente pesada em nossa época por colocar numa regra matemática as
desvantagens e vantagens de tal fenômeno. O conceito soa um tanto estranho, mas
o fato é que a mente não tolera uma resposta tão precisa de eventos emocionais.
A fantasia e fabulação não deixam de ser mecanismos protetores contra a
frustração real da afetividade não vivenciada. A solidão primeiramente fornece as vantagens das desobrigações para com
o outro e o sentido da liberdade íntima, mas a seguir advém a agonia de saber
que se está no mais puro isolamento que um ser humano pode suportar, afora a
culpa corrosiva de achar que sempre afastou as pessoas ao seu redor.
Se
desde cedo, percebemos o diminuto de nossa existência, é claro que os desejos
de poder ou imortalidade ao menos na memória coletiva seriam as compensações. O
narcisismo em voga na nossa sociedade é o exemplo máximo dessa tentativa de
superioridade, ao contrário da pessoa que se sente inferior, não conseguindo
descobrir ou atuar num ramo em que obteria a grandeza. Outro núcleo
do complexo de inferioridade se estabelece quando a pessoa no transcorrer de
sua vida perdeu quase que totalmente a capacidade para dizer um não. O ceder
inicialmente corresponde à expectativa de uma futura gratidão por parte do
outro. Mas quando não ocorre o que justifica a continuidade do comportamento
nefasto para a pessoa? A resposta é o ódio disfarçado de uma mágoa constante
visando cobrar o que lhe seria devido. Porém, tal processo pode se arrastar por
anos e coibir completamente a autoestima do indivíduo. A dificuldade do não diz
do tabu perante a agressividade e o ódio, elementos fundamentais que precisam
ser elaborados em nossa existência. Para alguns atuar o não é desenvolver uma
paranóia extrema perante uma retaliação que talvez seja até inexistente.
Obviamente há uma ativação total do medo, sendo que a preocupação se torna
dilacerante, preenchendo todos os espaços da mente. Isto é exatamente o oposto
da chamada “paz de espírito”, e todos temem passar por tal agonia. A sensação
de covardia se contradiz com o ter de reagir perante eventos que na maioria das
vezes sabemos que são mais do que ínfimos.
Pensemos em um dos conceitos clássicos
da psicologia que é a elaboração do luto. O mesmo teria a finalidade de um
tempo para que a pessoa vivenciasse a experiência da dor ou perda. O que tal tese não percebe é a diferença
radical entre luto e velório. O primeiro é extremamente tendencioso a uma
continuidade destrutiva para a saúde psíquica do sujeito; já o velório é um
processo de curta duração, sendo que a pessoa é obrigada a encarar frontalmente
a perda. O tempo sempre é fundamental para evitar a sedimentação das seqüelas
emocionais que uma separação ou perda produzem.Uma separação sempre é
igualada ao complexo de inferioridade não apenas pelo receio da crítica social,
mas por se achar impossível novamente encontrar alguém que entenda a intimidade
da pessoa. Tal fato sempre foi confundido como uma espécie de comodismo ou
apego para o reinício de algo, não que tais fenômenos não ocorram, mas muitos
se esquecem de analisar que o grande drama é perceber que uma nova ligação
coloca sempre o desafio se a pessoa realmente é capaz de conquistar alguém. É
engraçado e curioso como no terreno afetivo o ser humano exacerba o medo de
perder, permitindo o desperdício do tempo.
A verdade é que em nossa atual sociedade
já foram criados nódulos fixos do complexo de inferioridade: não conseguir
lucro material, obesidade, solidão, ausência de amizades e exclusão social
(entrando o racismo nas diferentes áreas). O dilema de toda pessoa é se a mesma
pode vir a possuir algo que a princípio não seja mero fruto da pressão externa,
mas que um dia seja reconhecida pela
mesma de forma natural, assim sendo, isto seria realmente algo que preencheria
o sujeito, e não todos os recalques que se carregam pelo medo da opinião
alheia. A questão não é propriamente que tipo de inferioridade se abate sobre o
sujeito, mas como irá enfrentá-la, com agressividade, tristeza, inconformismo,
timidez. Todas o afastam plenamente da aceitação de sua pessoa. A timidez
talvez seja a pior de todas, pois se criou um segredo quase que absoluto sobre
a pessoa que não deseja dividir sua intimidade. A lei que passa a vigorar é
encaixotar qualquer emoção mais profunda perante outro ser humano. O tímido
jamais aceita fazer sua parte quando o assunto é se abrir para os
relacionamentos em geral; abstendo-se de tudo, até da denúncia de um sistema
que segrega, já que optou por tal modelo pessoal espontaneamente. Percebam mais
uma vez que o problema da inferioridade é a proibição da criação no presente;
tudo está amplamente ligado ao passado, devendo compensá-lo a todo instante. É
quase uma suprema autorização mais do que abstrata para se poder viver, e que
nunca chega.
A
prática profissional me deu a certeza de que o problema do complexo de
inferioridade ou neurose é quando não há mais a discriminação entre o “grande
ou pequeno” dentro do esquema mental da pessoa, nivelando quase que toda a
experiência pelo medo ou terror. É desnecessário dizer que tal prática
deixa seqüelas quase que irreparáveis na socialização e humor do indivíduo. O
esquema econômico oportunista inventou uma espécie de vacina para tal moléstia;
o consumo. Este parece ser a única cura para quem sofre de algum transtorno com
sua autoestima; novamente nivelando ou dando a fuga para todos os males da
personalidade. É óbvio que algo ou alguém iriam desenvolver um projeto de lucro
ou ganho em cima do sofrimento psicológico; a história da humanidade é prova
viva de tal prática. O problema é que tal assunto é apenas encarado de forma
ideológica, sendo que a essência não é a fuga citada para o consumo, mas, quais
conseqüências irão surgir ao longo do tempo para quem aceita o suborno material
para o que não consegue lidar? O sistema criou caricaturas de pessoas
consumistas com altas doses de infelicidade (madames, crianças mimadas), quando
na verdade todos aguardam a oportunidade de recorrer a tal expediente. O dinheiro há muito tempo não é apenas o
seguro contra a privação, sendo a garantia máxima de adiar o confronto contra o
balanço pessoal sobre se a pessoa obteve satisfação, plenitude ou ansiedade e
desgraça.
FREUD acreditava que o núcleo da neurose
era a compulsão para a repetição, um evento mórbido que tinha a característica
de repetir diversas vezes o mesmo trauma até uma possível tentativa de
assimilá-lo. Além dessa questão indiscutível do ponto de vista técnico, tal
fenômeno quando ocorre inicia uma espécie de jogo econômico no plano mental, poupando
o sonho ou prazer almejado pelo indivíduo. Isto visa ampliar de forma indireta
a experiência do prazer; se concentrar em
eventos passados é um disfarce para o tédio que a curta duração da satisfação
proporciona, é como conquistar um troféu e apenas esperar pelo próximo, sendo o
centro total da ansiedade. A sexualidade não tem a primazia por sua questão
de prazer propriamente dita, mas, exatamente pela extrema finitude e curta
duração do ato do gozo. O tempo
sempre foi e será o centro de toda dimensão e complexidade psicológica, sendo o
último complexo, podendo passar por liberdade, sofrimento, confinamento,
alívio, dentre outros. O indivíduo que não aceita tal desapego citado acaba
adiando sua busca pessoal de satisfação, não percebendo que a cada dia se afasta
mais de seus objetivos. Não precisamos ir muito longe para vermos diversos
exemplos em nossa sociedade, à busca da perfeição em um parceiro ou companheiro
afetivo e sexual, tornando a pessoa arredia e isolada neste terreno. É um tanto
estranho que uma sociedade tão consumista e hedonista não consiga efetivamente
gastar ou vivenciar o prazer em sua plenitude, exatamente pelo conflito do
tempo citado. O mesmo jamais será uma mercadoria, pelo contrário, nosso juiz
máximo para o autoconhecimento ou horror da perda.
Seja a passividade de alguém tentando
agradar a todos, para se evitar o tormento do conflito, ou a pessoa que faz
deste último sua meta de vida, o problema da rejeição está intimamente
relacionado ao complexo de inferioridade. O
próprio fenômeno do amor não deixa de ser uma tentativa de cura para tal
pesadelo de nossa alma. A rejeição
também está relacionada à dificuldade de se lidar com o problema do erro.
Pessoas que não conseguem lidar com o mesmo, encaram tal fenômeno como único,
sendo que talvez não terão mais oportunidades de reparo ou outras chances de
reconhecimento; é como se no decorrer do desenvolvimento o lado afetivo fosse
uma espécie de um teste de emprego, ou se consegue o cargo ou se está
totalmente excluído, sendo que o amor dos pais é visto nesta perspectiva de não
ter aproveitado a ocasião. O centro máximo da psicologia na atualidade
passa também pela temática do apego. O grande malefício do mesmo é quando cada
ser humano faz uma leitura do medo da perda de algo que lhe trouxe felicidade
ou satisfação, quando na verdade tudo pode não passar de um núcleo de
comportamento vicioso, obstruindo novos caminhos. Obviamente que o conforto,
materialismo e raciocínio de segurança de nossa era amplificam tal questão: boa
conta bancária como seguro contra a miséria, casamento ou relacionamento para
afastar a solidão, dentre outros.
A tentativa de perpetuação com certeza
nunca foi o melhor caminho para a saúde psicológica. Porém, sejamos francos,
nenhum ser humano em nossa sociedade conseguiu viver outro modelo. A posse
enseja a loucura da perda e recomeço, como disse acima, e quem não possui vive
o dilema do desejo, que se torna também loucura por ter de vivenciar uma
paciência que parece que nunca traz o objeto almejado. Sendo assim, o desejo acaba
por ser algo dilacerante, que corrói e transmuta negativamente sua própria
origem e finalidade. Então estamos falando da mais pura ilusão, sendo que todo
esforço é para compensar medos irreais que quase nunca conseguimos trabalhar,
mas que afetam totalmente nossa vida diária. Se a realidade então supre uma
necessidade inconsciente quase que fantasmagórica, parece que se vive no limbo,
ou talvez isto seja a resposta de todo o nosso fracasso no âmbito pessoal e
social. O problema do dinheiro não é sua retenção ou alguém se tornar
perdulário, mas assim como o sexo e afetividade, quando se usam tais
instrumentos para encobrir o medo da impermanência citada anteriormente. É um
mito um tanto tolo achar que o trabalho teria um sentido de expulsão do
paraíso, quando na verdade também é usado para encobrir várias angústias
existenciais, e este é sempre o problema ontológico, em qualquer direção que
seguimos, percebermos a finitude.
A
superação do complexo de inferioridade passa por um aspecto na correta efetivação
do que chamo de “contabilidade emocional”. O que determinada pessoa recebeu de
afeto versus o que pode doar sempre são excludentes, ao contrário do que quase
todos pensam. A prova disso é que se a fórmula fosse igual, a pessoa mimada
teria necessariamente de doar amplamente, fato que nunca ocorre. Este é o ponto
nevrálgico de libertação, pois o que se possui internamente jamais provém
apenas do reforço, mas de uma habilidade de reconhecer sua potencialidade. Pensemos
no indivíduo que não para de chorar diante da angústia de sua história de vida,
paralelamente ao desprezo de outro perante sua suposta fartura emocional (o
mimado citado). A cura final é o ponto onde se desperta o prazer, sendo que
deve ser um fenômeno da mais pura meditação pessoal, sem qualquer interferência
da ditadura da opinião alheia. Mas alguns irão questionar se a
descoberta da potencialidade não depende do reforço de outro? Jamais, apenas a
conscientização de uma avareza daquele que podia ajudar ou doar e não o fez,
assim como enxergar seu histórico de se sentir totalmente privado de algo.
Outro
conceito importante para a superação da inferioridade é perceber a semelhança
entre o ato do amor e a própria evolução da pessoa. Ambos têm sua junção na
percepção do que cada pessoa ao seu redor pode fazer ou não no preenchimento
das necessidades afetivas de ambos, tarefa muito mais profícua do que a perda
de tempo no sofrimento da expectativa da transformação do outro. A intuição
sempre nos alerta de que a insistência já é por si mesma uma mensagem do não
retorno daquilo que se almeja. Amar também é abandonar a tempo um sujeito
incapacitado para a arte da troca, evitando a cristalização de seqüelas quase
que irreversíveis para a saúde afetiva. Isto seria o mais puro uso correto do
que podemos chamar de sensibilidade, ao contrário das pessoas que a utilizam
apenas na arte da superstição ou no desenvolvimento da angústia ou sintomas. Devemos
estar extremamente atentos ao manejo daquilo que sonhamos e ainda não o
obtemos. Estar sempre de sentinela perante o desejo não cumprido em nada
garante a sua consecução. Lembro-me de um sonho de um paciente onde no mesmo
sonhava que estava para ser enterrado vivo, por uma outra pessoa desprezível do
ponto de vista estético e higiênico; tentava ganhar tempo a todo custo, para
ver se fugia; na seqüência fora transportado para uma outra cena onde conhecia
uma mulher que lhe proporcionou o mais intenso e puro momento de felicidade. O
inconsciente é a total dualidade, o embate constante de opostos, assim sendo, permanecer
fixado apenas no desejo ou só num determinado caminho, sem a percepção de
outros processos não garante nenhum êxito como disse acima.
Cada época expressa de forma singular
suas idiossincrasias e medos. Nossa era reúne dois núcleos centrais na inferioridade,
e que são causadores dos mais graves distúrbios de personalidade: a exclusão
sócio-econômica e o abandono afetivo. O receio das pessoas perante estas duas
áreas é claríssimo, porém o que ninguém ousa tocar é a natureza de tais
fenômenos. É impressionante como ambos são os causadores máximos de vários
distúrbios psicossomáticos, e obviamente ninguém deseja passar por tal
infortúnio. Além disso, outro ponto de extremo pesar é quando sentimos aquela
tristeza contagiante de outra pessoa, e sem sabermos a razão, nosso humor e
talvez aquilo que se chame de sorte foi completamente tirado de nós. Seria isto
a pura energia negativa? Diria que afora o misticismo, tais acontecimentos
negativos têm a capacidade de ativação de nosso lado destrutivo que tanto
tentamos abafar ou negar, e por mais que tentemos a negação, sabemos
intrinsecamente que qualquer malefício sempre está perto de nossa vida. Mas
enfim, como aprender a se gostar com todas as armadilhas citadas no texto?
Diria primeiramente que deveria haver uma espécie de equilíbrio entre as
exigências estéticas e sociais do meio com os aspectos da personalidade do
sujeito, sendo que o mesmo aprenderia a investir no externo e interno, este
último possui uma defasagem descabida em nossos dias.
Muitos atrelam seu valor a outra pessoa,
uma espécie de “salvador”, para que o mesmo tenha a função de ratificar as
potencialidades da pessoa em déficit. Sem dúvida alguma vivemos em sociedade e
pouca coisa possui valor na solidão e isolamento. Mas no assunto da autoestima deveria haver uma quebra momentânea, sem
aquele cunho neurótico ou esquizofrênico, onde a pessoa em determinado ponto
percebesse seu aspecto pessoal de genialidade e capacidade, seja na área
sexual, companhia, inteligência ou estímulo e vontade para a mudança. O “se gostar” é amplamente diferente do
êxtase de uma felicidade momentânea ou a satisfação de um sonho tão cobiçado, o
problema é que a maioria confunde estes setores, se diminuindo e tocando ao
longo da vida um projeto de segurança, que nada mais é do que o sinônimo máximo
da mediocridade. O ápice da escravidão moderna é a loucura da dependência em
todas as áreas: drogas, opinião alheia, companheiro (a), dinheiro, receio de
perder o que se conquistou, ou as coisas que nos distraem. O stress é a
conspiração diária da ansiedade e desejo irreal de segurança, nos transportando
para um mundo ilusório dentro da curta realidade de nossa vida. Por fim,
elaborei um teste dinâmico, acerca dos fatores históricos que causam a
inferioridade, o mesmo deve ser feito conjuntamente com um profissional da
psicologia que tenha ciência da junção entre conflitos psíquicos e esquema
social.
Teste sobre o complexo de inferioridade
e superioridade:
“Qualquer teste só é válido para uma
reflexão pessoal, e não confiar a algo estático um juízo de valor para nossa
personalidade”.
1)
No decorrer de seu desenvolvimento foi estimulado ou
sempre motivo de ironia ou gozação?
2)
Lembrar de todos os apelidos que teve e as razões que
as pessoas tiveram para os imputar.
3)
Quando as lembranças mais agradáveis da infância se
dissiparam? Sentiu que conseguiu a satisfação sobre tal período, ou o tempo de
felicidade foi extremamente curto?(pergunta fundamental que investiga toda a
fantasia e tendência a um saudosismo irreal, fazendo com que a pessoa veja a
trajetória de sua carência e falta de oportunidade para vivenciar o prazer,
esta pergunta ainda dá pistas sobre como a pessoa não se dá à oportunidade para
resolver ou aproveitar aquilo que sempre desejou).
4)
Como sempre sentiu a conversa com os pais?(convidativa
ou com um tom de reprovação?).
5)
Qual a área que sua família priorizou?(material,
disciplinar, prazer e amizade entre seus membros? Notem que quanto mais
envelhecemos observamos o que mais faltou em nosso meio).
6)
História de seu rendimento escolar (destaque, mediano,
abaixo da média, sendo que sempre lhe cobraram a mais do que conseguia?).
7)
A história de suas relações afetiva e sexual (acabaram
como? Em total discórdia, se preservou algo? - pergunta fundamental para se
obter onde repousa o núcleo da afetividade; no ódio, agressividade, lamentação
dentre outros).
8)
Como sempre trabalhou o aspecto da rejeição? (com
imensa dose de angústia, desespero, ou procurou refletir o porque da pessoa ou
situação darem errados? Sentia que sempre poderia encontrar outra pessoa, ou
seu apego dava a noção de ser a última oportunidade de sua vida?).
9)
Que tipo de homem ou mulher fantasiou desde a
adolescência?(aspectos estéticos, fama, poder, procure refletir sinceramente
quais foram às influências que motivaram tais conteúdos).
10)Na área histórica
do trabalho como sente que foi sua atitude emocional (paranóia, conflito,
sensação de incapacidade, atenuador de discussões ou seguro de si mesmo)?
11)Qual a
tônica de seus relacionamentos em geral?(disputa, rebeldia, passividade,
paternalismo, indiferença?).
12)
Excetuando perdas de familiares, qual foi à vivência mais triste de sua vida?
Não confundir com dificuldades cotidianas; o objetivo é localizar determinado
fenômeno que deixou seqüelas.
13) Conseguiu
avançar no tocante à amargura de determinado desejo não realizado? E sobre a
inveja perante os outros, como sempre lidou com tal questão? Parou para
analisar o incômodo de tal sentimento quando ocorreu, ou tentou apenas esquecer
o acontecimento.
14) Quais
foram os acontecimentos que mais lhe proporcionaram arrependimento? O que
houve? Demora na ação ou resposta, timidez? O arrependimento deve ser encarado
como uma pista de algum bloqueio ou sabotagem perante algum desejo nosso; pois
quando se encontra ao alcance, muitas vezes se desenvolve um mecanismo de medo
ou temor perante os mesmos. Devemos refletir que o problema não é ter perdido
algo, mas, quanto de possibilidade e motivação nos resta para a continuidade de
nossas metas.
15) Se
tivesse que fazer um balanço de situações de sofrimento, quais das mesmas
efetivamente lhe causaram prejuízo, e quantas não foram valorizadas
simplesmente pelo medo da exclusão ou repetição de algo?(Novamente insisto na
dimensão da mistura do grande e pequeno, e o nível de tolerância de uma pessoa,
sendo que o resultado para alguns é um imenso desperdício não apenas de seu
humor, mas, da motivação que sempre é subtraída pela preocupação).
16) Consegue
analisar o tamanho de sua insegurança ou ciúme? Pensar nas situações de
descontrole, exemplo: ligar desesperadamente diversas vezes para uma pessoa, a
insistência carregada de ódio modifica algo? Forçar a continuidade é prova de
nosso poder pessoal? A insistência não seria também uma prévia de uma futura
ruptura?
17) Na questão
do sono, qual a essência corriqueira de seus sonhos ou pesadelos? Caso os temas
sejam recorrentes, quando começaram? Se há insônia, consegue visualizar o
motivo, ansiedade, depressão, falta de iniciativa durante o dia para pensar ou
perceber como poderia resolver seus conflitos?
18) Que tipo de prazeres estariam ao seu alcance, mas, que simplesmente você trava na hora de os executar? Sua tentativa de disciplina interna apenas segue o comando da opinião alheia?
19) Quanto tempo calcula que levará para resolver ou alcançar as reais metas de sua vida? Por que não as efetuou até o momento?.
20) Como encara qualquer tipo de ajuda, seja psicológica, familiar, com orgulho? Com naturalidade?(Pergunta fundamental para se iniciar o processo de mudança, pois pessoas com grande soma de inferioridade resistem à qualquer tipo de intervenção externa).
21) Qual o peso que carrega pela falta de investimento naquela área que seria prioritária para sua satisfação pessoal, mas, que por indolência e resistência não o fez?(a pergunta mais importante, pois dá uma dimensão da falta de sentido da vida de determinado sujeito que apenas segue modelos, obstruindo sua criatividade).
BIBLIOGRAFIA: ADLER, ALFRED. O CARÁTER NEURÓTICO. BUENOS AIRES, EDITORA PAIDÓS, 1912.
AGRADECIMENTOS:
SIMONE JORGE E IRINEU FRANCISCO BARRETO JÚNIOR(SOCIÓLOGOS E COMPANHEIROS INCANSÁVEIS NA BUSCA PELO AUTOCONHECIMENTO).
APENAS PESSOALMENTE E EM CONSULTA FORNECEMOS QUALQUER TIPO DE ORIENTAÇÃO PSICOLÓGICA, SENDO PROIBIDO QUALQUER RECURSO ELETRÔNICO PARA CONSULTA: EMAIL, MSN E OUTROS.
ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO- PSICÓLOGO CLÍNICO HÁ 18ANOS.
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