PSICÓLOGO
ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO- C.R.P. 31341/5 TERAPIA DE CASAL E INDIVIDUAL.TELS.
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sobre a terapia de casal)
Impulsividade
(análise psicológica)
Este é sem sombra de dúvida um tema que
atinge pelo menos metade da humanidade. Inicialmente defino impulsividade como
a máxima expoente do complexo de inferioridade; o traçado de ambas é idêntico
em quase todos os sentidos. Cada evento por mais diminuto que seja, adquire uma
reação máxima do ponto de vista emocional. Não tratarei aqui das sociopatias,
mas apenas dos casos psicológicos. Na
impulsividade tudo é uma prova terrível, sendo que a única saída para a pessoa
provar um pouco de sua autoestima é a total competição. Este processo é
sentido como que interminável para o sujeito em questão. A impulsividade é uma defesa contra a assimilação parcimoniosa de uma
crítica. Esta é sentida não apenas como um ataque frontal perante a auto imagem
da pessoa, mas, como um dano irreparável, ou que se levantou um segredo que irá
humilhar o indivíduo no mais alto grau imaginável. Os elementos intrínsecos
que compõe a impulsividade são: ódio, medo e ansiedade respectivamente. Todos são
incontroláveis e invadem por completo a mente da pessoa.
A conseqüência direta da impulsividade é
a vivência constante da culpa. Advém então, tentativas de reparação quase que
megalomaníacas, como sacrifícios exagerados, presentes exorbitantes e coisas do
gênero. Se importar com mínimas coisas causa uma escravização quase que diária
no sujeito, que toma empréstimos constantes da agressividade, formando um ciclo
vicioso. Todos já perceberam que o impulsivo fala na maioria das vezes verdades
sobre os outros, mas, o problema é que sempre centra apenas na negatividade, na
tentativa de punir, humilhar e destruir seu oponente. Muitos poucos conseguem
absorver este tipo de ataque quase que inesperado. A desgraça absoluta do
impulsivo é a esfera negativa do poder. Será sempre lembrado pela dor e sofrimento
que despertou no outro, sendo que não tardará para que o nefasto sentimento de
vingança assole totalmente o núcleo das relações das partes envolvidas. O
problema do impulsivo não passa apenas pelo exagero, mas a palavra correta
seria o despropósito diante de determinado fato ou evento. Se fosse pensar em
exemplos teríamos diversas situações cotidianas em nossa sociedade: àquela
pessoa no ambiente de trabalho totalmente neurotizada, as infindáveis
discussões no trânsito que além do stress produzem diariamente tragédias,
conflitos entre casais pela simples disputa de poder que acirra ao máximo a
impulsividade de um ou ambos.
O impulsivo radicaliza ao máximo seu
código de ética ou conduta, não abrindo o mínimo espaço para a dúvida ou erro. Na verdade a grande síntese da personalidade
do impulsivo é que o mesmo sofre pela antecipação de qualquer contrariedade;
sendo que a retenção ou poupança desta carga destrutiva constantemente deve ser
expelida através do outro. A raiva ou o ódio súbito é o total medo da derrota
no confronto, tentando aniquilar o oponente o mais rápido possível. A
impulsividade atrasa totalmente a evolução emocional da pessoa, ficando presa
incessantemente de instintos primitivos. O
impulsivo tem uma certeza fruto de seu histórico pessoal que seu tempo é
extremamente escasso. Tal percepção deriva dos momentos de prazer na infância
ou interação afetiva abaixo das necessidades da pessoa. Sua meta então é
conseguir determinada coisa o mais breve possível, porém, em tal empreitada
surgem feridas nas pessoas ao seu redor que trarão todo o conflito à tona. Estados
de relaxamento ou entretenimento são raríssimos no impulsivo, pois sua guarda
sempre está levantada na espera do ataque ou adversidade.
Os escassos momentos afetivos do passado
descrito causam constantemente um avassalador sentimento de injustiça perante
qualquer situação de contrariedade, provocando a súbita revolta e consternação.
O impulsivo é aquele tipo descrito pela psicologia que não tolera em hipótese
alguma a frustração. Cabe aqui uma
distinção precisa entre a ansiedade e impulsividade. A primeira é um estado
interno de inquietude que necessariamente não exige uma descarga agressiva
perante o outro; já na impulsividade o meio circundante sempre é o palco ou
testemunha do exagero ou de medidas descabidas. A impulsividade como todos
sabem é companheira absoluta do consumismo em nossa sociedade. A intersecção de
ambas é o imenso sentimento de carência e culpa. O ímpeto para a compra compulsiva
equivale ao que descrevi anteriormente de escasso afeto, tendo de abocanhar o
mais breve possível à necessidade emocional, que sempre veio em doses pequenas.
A pessoa que se gosta, não precisa
necessariamente evitar o consumo, mas, que o mesmo não apenas seja sobre o que
é realmente necessário, mas também o que será efetivamente aproveitado,
evitando a “neurose do colecionador”, guardando totens econômicos que
supostamente resguardariam a frágil autoestima do sujeito. É mais do que
óbvio que o consumo produz instantaneamente uma sensação de poder que encobre
temporariamente a carência da pessoa, agindo como uma espécie de droga, porém,
além de seu efeito ser extremamente reduzido produz o mesmo vazio de qualquer
tipo de entorpecente. Temos de ter consciência da enorme defasagem entre este
conceito e toda a propaganda em contrário que o sistema econômico produz.
Ingenuidade é acreditar que uma determinada percepção por si só irá alterar o
estilo de vida imposto pela sociedade. O tesouro do autoconhecimento é perceber
sempre, afastando a indigestão do conflito torturante perante a impotência.
O impulsivo sofre por sua idéia
fantasiosa de achar que detém o poder da mudança, quando a grande meta social é
o convite para a reflexão. A impulsividade sempre foi o combustível máximo para
o desenvolvimento das ditaduras; sendo que na mesma há uma extensa projeção ou
se delegam todo o potencial de ódio, vingança e frustração. Não se trata em
hipótese alguma de pregar o conservadorismo. As mudanças e revoluções constituem
elementos indispensáveis na transformação e evolução humana. O problema do uso
quase que exclusivo da impulsividade é que a mesma cega à percepção de
elementos que deveriam ser preservados; aliás, esta sempre foi a grande
contradição das revoluções. O impulsivo
não sabe cuidar, destrói não apenas a superfície, mas também o alicerce de seus
relacionamentos. Mas o porque de arrasar tudo para após aparecer o
arrependimento? A questão é que o impulsivo necessita diariamente medir sua
força, e sempre destoa na execução de tal tarefa. Este também sempre foi outro
combustível responsável pelas grandes tragédias da história da humanidade. Outra questão vital é a contaminação
emocional do impulsivo; quase todos que sofrem do problema possuem um imenso
potencial intuitivo, provocando ou absorvendo toda a carga destrutiva ou os
anseios nefastos de seu meio circundante. O impulsivo acaba amplificando tudo
de pior sobre as emoções negativas alheias.
Um dos problemas máximos do impulsivo é
sua total insegurança, apesar de tentar demonstrar sempre o contrário em seu
despotismo e arrogância diária. Nunca o
mesmo tem a real convicção de ser amado ou ter um lugar seguro no panteão de
pessoas que os outros se importam. A angústia e agonia da solidão sempre
será o catalisador do ódio e conflito para chamar à atenção sobre si mesmo;
esta sempre foi à gênese oculta dos ditadores no decorrer da história. O
contrato inconsciente que mantém a união de uma pessoa impulsiva com outra
aparentemente calma, é a pura necessidade de vivenciar uma parte negada da
personalidade através do outro. Se pensarmos no famoso conceito de FREUD de
repetir o sofrimento através de experiências similares, chegamos à conclusão de
que um dos problemas básicos nas relações humanas é a questão da imitação.
Repetir equivale a imitar, mas, por que? Primeiramente a imitação é um modelo a
ser seguido; segundo, o medo da solidão e abandono caso alguém trilhe um
caminho diferente; terceiro, a homenagem para àqueles que supostamente nos
deram a vida; quarto, a culpa pelo também suposto sacrifício do outro para nos
criar. A culpa citada também se torna um anteparo perante uma rebeldia no
sentido de adotar um outro modelo de vida de seus genitores, se resignando
perante o sofrimento.
Tanto o tímido, depressivo e o impulsivo
possuem um imenso núcleo de raiva e ódio. O impulsivo evoca o conflito o tempo
todo para buscar a situação de prova e competição citada. O tímido justamente o
contrário, criando um mistério sobre sua personalidade, minando o outro de
entrar em seu mundo de agonia e amargura, mantendo a vivência da raiva oculta
para os outros, mas a alimentando constantemente. O tímido apenas foge da
situação de prova, mas não de sentir raiva que demonstra através de sua omissão
e silêncio. O depressivo carrega a doença, dizendo assim, que foi acometido de
algo quase que interminável, merecendo então todos os cuidados do meio, mas,
principalmente podendo também diminuir suas obrigações e responsabilidades
afetivas. Em síntese, as três moléstias têm em comum enxergar alguma graça na
vida caso a estrutura neurótica proporcione o centro da atenção para a pessoa,
independentemente de como efetuarem tal propósito.
A noção do trauma está muito mais para o
impulsivo do que bloqueios da sexualidade infantil, como sempre a psicanálise
colocou. O impulsivo vivenciou a experiência da ruptura com uma carga de dor e
agressividade além do normal; temendo o retorno da mesma tenta antecipá-la,
criando zonas de virulência e disputa em seu meio. Seus relacionamentos sempre são um treino para o “armagedon” que está
preste a chegar novamente. O problema de toda essa operação mental é a
perda da própria vontade do sujeito, ficando absolutamente refém de
acontecimentos dilacerantes que não consegue lidar. As restrições ou limites
para sua conduta antecipada e agressiva que não consegue evitar lhe causam o
preço da solidão e abandono quase que por completo; além do constante clima de
“terra arrasada” na convivência diária, pois apenas suscita o medo nas pessoas
perante alguém com absoluta falta de controle. Novamente fazendo um paralelo
com outras enfermidades, os atos desgarrados do impulsivo são nada mais do que
uma defesa contra a vivência da experiência da depressão, pois esta última tem
a característica peculiar de lançar o indivíduo na mais pura impotência
pessoal, coisa que o impulsivo teme inteiramente; na verdade o que salva o
impulsivo da depressão profunda é o seu senso de orgulho exacerbado, porém o
mesmo o acaba prejudicando nas demais áreas dos relacionamentos.
O ponto central que devemos estudar é a
noção do equilíbrio. Aonde as pessoas corriqueiramente o buscam? Por equilíbrio
se entende algo normal, com boa dose de paciência ou coisas afins. Não é bem
assim do ponto de vista psicológico ou do inconsciente. Equilíbrio tem a
dimensão do uso daquilo que sempre faltou ou foi reprimido, sendo assim, pode
acontecer em situações desastrosas, pelo simples fato da pessoa nunca ter
experimentado determinado acontecimento. As ações mais tresloucadas podem
conter uma compensação psíquica para o sujeito. Obviamente por trás disso tudo
jaz a carência. Não se trata da repressão ou anulação em hipótese alguma, mas
também não podemos permitir um padrão de respostas rotineiras que definem a
impulsividade. A liberdade no sentido
profundo do termo significa a possibilidade de experimentar novas vivências ou
atitudes. O impulsivo, asceta, doutrinário e religioso jamais serão seres
livres por conta do fator citado. Definitivamente na terra o único e máximo
inferno possível é a solidão. A impulsividade é a religião rigorosa de seguir a
doutrina diária do conflito.
Não preciso nem ressaltar o sofrimento
do impulsivo oriundo de seu constante orgulho exacerbado. O mesmo até gostaria
de poder refazer, perdoar ou recomeçar, mas simplesmente é impossibilitado de
dar o primeiro passo, esperando do outro as desculpas para continuar a
manutenção de seu status de poder. Admira e até inveja pessoas calmas e
tolerantes, que não absorvem a negatividade e lidam com eficácia perante a
tristeza do meio circundante. A natureza arbitrária e espalhafatosa do
impulsivo visa também acobertar sua ansiedade e pontos emocionais deficientes
em sua pessoa. É interessante a equação
que o impulsivo desenvolve perante qualquer pessoa que pode vir a criticá-lo,
exigindo uma retidão de caráter e perfeição divina de seu suposto oponente,
esquecendo que por parte do mesmo a crítica é seu instrumento diário de
trabalho e nem sempre com cuidado ou construtiva frente à determinada pessoa. A
verdade sobre este ponto é que o impulsivo necessita se cegar perante o
autoconhecimento acerca de sua conduta ou comportamento totalmente contaminado
pela agressividade. Não consegue estabelecer regras emocionais para as coisas
que realmente seriam prioridade.
O fato é que se um determinado sujeito
ao longo de sua vida não conseguiu estabelecer uma saúde psíquica em áreas
vitais (relacionamentos, sexualidade ou amizades), sempre irá deslocar ou
priorizar o ínfimo. A grande questão para
ser resolvida é se alguns seres humanos realmente estão predestinados à
privação do básico em termos afetivos e o quanto de esforço ou luta devem fazer
para superar tal condição. Falei no começo deste estudo que o impulsivo
destrói a base e o fundo dos relacionamentos, porém, o mais incrível é que sabota geralmente seus parceiros mais íntimos,
canalizando para o mesmo todo o foco de sua raiva, apesar de contraditoriamente
ter um imenso apreço por essa pessoa. É como se no final necessitasse de uma
espécie de companheiro para treinar o rancor. Alguém acometido de tal fenômeno
terá implicações destrutivas e mórbidas na esfera do afeto. O suposto amor do
impulsivo sempre é subjugado por fantasias pretéritas de exclusão e abandono.
Talvez não apenas o impulsivo, mas
também outras personalidades possam achar que o abandono do ato instintivo pode
minar a capacidade de reação ou direito de defesa da pessoa. O problema é que o
próprio conceito de defesa deve ser reformulado. A cultura e sociedade o
igualam a uma espécie de vingança ou quase sempre dar o troco. A real defesa, autoestima, amor próprio ou
auto valorização é justamente evitar uma zona de conflito desnecessária. Talvez
muito poucos seres humanos possam ter a felicidade suprema de serem realmente
amados ou terem relacionamentos duradouros; mas que todos os seres poderiam
galgar a evolução citada anteriormente é fato indiscutível. Aliás, outra
falha enorme da psiquiatria e psicologia é justamente não debater do ponto de
vista psíquico o que realmente existe para todos?(complexo de Édipo, ódio,
agressividade, ansiedade, depressão, mágoa e tristeza). Mas e a capacidade de
reação? Evolução psíquica é o pleno
equilíbrio entre não se importar em absoluto com o inferno que o outro pode nos
causar e ao mesmo tempo manter a centelha da escuta ou admissão do que pode vir
a ser verdade ou a aceitação de uma simples crítica. O orgulho deveria dar
passagem para um caminho de reflexão e a mágoa ser dissolvida em nosso amor
próprio. A estima por incrível que pareça passa por uma insensibilidade perante
infortúnios ínfimos. Nunca um ser
humano bem resolvido necessitou ser sensível o tempo todo.
Podemos também fazer um comentário sobre
a questão da ideologia. Determinada crença, ritual ou linha de pensamento fazem
parte da psique humana. O problema é que
tais processos no desenrolar do histórico da humanidade sempre desencadearam
uma imensa dose de ansiedade, levando o indivíduo a passar, ou melhor, dizendo
“obrigar” o outro a compartilhar de determinada revelação ou visão. É
justamente quando o portal da destrutividade jorra todo o seu ímpeto. Será
que realmente o mais importante seria acreditar cegamente ou radicalmente em
algo, ou examinar o real processo mental e evolutivo que levou determinado
sujeito para uma crença ou ideologia? Se a pessoa obesa tem de refazer seu
conceito de alimentação, assim como o drogado o problema da fuga perante a
frustração, o impulsivo deve prestar contas ao aspecto do controle. O impulsivo assim como o ciumento carrega
uma dose absurda de egoísmo, pois diariamente provam que sua energia está única
e exclusivamente direcionada aos seus propósitos e preocupações, sendo que à
vontade do outro é mero adendo. O que definem como amor não passa na verdade de
uma aberração, pois se trata de uma imposição eterna para que os sirvam na
agonia de suas fantasias destrutivas. A norma ética que define o amor ou
qualquer relacionamento onde a saúde psíquica prevalece é que ambas as partes
estejam disponíveis para a satisfação dos anseios, desejos e necessidades do
parceiro. O se relacionar é evitar o
“não” do desconhecimento ou falta de intimidade. O impulsivo sempre
exacerba tal conceito, pois como disse anteriormente jamais pode ter a certeza
de se sentir importante do ponto de vista afetivo.
Estabelecerei outro paralelo entre o
impulsivo e o tímido. Este último evita a cumplicidade por temer “enjoar” da
relação, fazendo uma busca eterna e platônica sobre alguém totalmente
idealizado e que o liberte de seu tormento de não conseguir se comunicar. O
impulsivo ataca o tempo todo seu parceiro, sendo assim, ambos desprezam as
pessoas mais próximas. Porque o impulsivo não consegue perceber ou aceitar o
ritmo do outro? O grande problema é que seu caráter narcisista exige uma
platéia a todo o instante, sendo assim, as aspirações alheias são totalmente
subjugadas pelo seu instinto de poder que jamais se consome. O impulsivo certamente poderia até respeitar
ou desfazer relacionamentos doentios, porém, seu apego, posse e espírito
revanchista jamais permitem tal empreitada baseada na lucidez.
FREUD nos últimos anos de sua vida definiu
a normalidade como sendo aquela pessoa que ama e trabalha. Transpondo tal
conceito para a atualidade diria que o mais importante é a qualidade e
satisfação de ambas as esferas. No lado do amor, normalidade vale para o
sujeito que não projeta ou deposita em alguém todos os seus sentimentos
negativos, negados ou não, tais como: raiva, inveja, ciúmes, posse, avareza,
desprezo, traição dentre outros. Claro que nenhum ser humano é perfeito para
que algum destes nunca o assole, porém, saber lidar com todos eles é que
definirá a retidão de caráter de determinada pessoa. Antes de se cometer o
equívoco de poetizar ou fantasiar uma relação, todos deveriam perceber que a regra básica da ternura é não fazer do
outro uma bacia de despejo de suas frustrações, bem difícil em nossos tempos,
como todos já perceberam. Seria interessante uma verdadeira humildade por
parte de todos a fim de perceberem quais mecanismos neuróticos se utilizam para
a fuga da solidão corrosiva de nossa época (dependência química ou afetiva, depressão,
narcisismo, impulsividade). Todos estes elementos visam encobrir um estado de
amargura visto como intolerável.
Mas cabe outra questão fundamental a ser
respondida, como o hábito mental da destrutividade ou vingança se estabelece e
quais suas conseqüências? Pensar
ativamente com uma boa dose de rancor contra alguém que nos fez mal descarrega
não apenas fatores químicos que aliviam a mente do sofrimento daquela dor,
ocasionando uma revanche no plano mental; ao mesmo tempo em que segura o ímpeto
de proceder à ação na realidade concreta. Para alguns não, o que seria o
estado de psicopatia, não conter o ódio na mente. Porém, no primeiro caso, o
fato de mentalmente realizar tal operação, não deixa de ter sérias seqüelas. O material destrutivo abordado tem a
característica de unir-se com todo o tipo de reminiscências de inveja, raiva e
ódio. Episódios que há muito foram esquecidos invadem novamente a psique da
pessoa. O dano passa a ser duplo pelo desejo de retaliação: preocupação,
ansiedade, medo e distúrbio mental pela situação incômoda do presente;
abatimento, depressão e desilusão pelas péssimas recordações evocadas do
passado. Tudo o que foi exposto prova a força incrível do pensamento. Mas
porque o pensamento negativo parece que sempre se sobressai ao positivo? O fato é que o chamado pensamento positivo
coloca o problema do desejo, sendo que o mesmo sempre está em mutação. Simplesmente
determinada pessoa não consegue pensar positivamente, pois ela mesma não sabe
ao certo o que almeja, sendo confusa e pusilânime na arte de seu prazer
pessoal. Já o pensamento negativo é totalmente estático e obsessivo, com idéias
de morte, catástrofe, pânico, sendo mais facilmente absortas pelo plano mental.
Enquanto o prazer é totalmente uma
incógnita a ser desvendada para muitos, o desânimo é uma certeza subjacente à
história de vida do sujeito. O erro crasso do dinheiro é achar que o mesmo
teria o poder de ampliar o leque de possibilidades de satisfação, quando na
verdade o mesmo sempre serve para encobrir a dificuldade ou bloqueio em
determinado setor. O dinheiro em nossa era não é em hipótese alguma símbolo de
conforto psicologicamente, mas tão somente um escudo imenso contra a sensação
de impotência e desespero. Claro que não estamos falando de sobrevivência ou
melhoria na qualidade de vida, mas daquela sensação de vazio e inutilidade
mesmo sem vivenciar a privação econômica imposta à maioria dos seres humanos de
nosso mundo. Tenho de ressaltar a
terrível contradição da impulsividade perante o contexto das relações sociais.
Se por um lado assistimos o disfarce de sentimentos, hipocrisia, timidez,
retenção das verdadeiras intenções; de outro vemos a volúpia cega e incontida
de ações ou atitudes desproporcionais mascaradas de autenticidade, quando nada
mais são do que a mais sublime prova de agressividade e tortura psíquica
perante outro ser humano.
Certamente todos projetam suas mazelas
em alguma área, sendo assim, impulsividade é sinônima absoluta de compulsão. É
dar o máximo na esfera do conflito, ódio e turbulência. A cura seria o
transportar de todo esse redemoinho de atrito para o cuidado, dedicação e
atenção para com o outro. Esta sem dúvida se torna à chave de tudo que discuti
neste texto; em que esfera se doa o máximo de nosso potencial? No sofrimento,
saudade, conflito, ternura, paixão, ciúme, ambição? Estamos neuroticamente nos
acostumando de que nossa única responsabilidade é cumprir os deveres econômicos
e sociais, menosprezando todo o impacto de nossa parte pessoal sobre as pessoas
ao redor. É engraçado como quase todo
mundo adquire cada vez mais responsabilidade na esfera da ambição e
concomitantemente se torna mais indolente no aspecto afetivo. Parece que
vamos precisar de várias traições, infidelidades, ciúmes, para que sejam
revistas as prioridades em nossas vidas, pois do contrário pensamos apenas no
consumo que o trabalho enfadonho e rotineiro de cada dia proporciona. Outro
alerta sem sombra de dúvida é a terrível solidão discutida no texto, que
relembra que o tempo vai passando e não atingimos o “orgasmo de viver”. É
visível a total falta de sensatez no lado íntimo, e de nada adianta qualquer
tipo de psicoterapia, terapia de casal e outras questões se não haver uma
profunda reflexão e espírito de crença na atitude ou mudança perante o outro. A
timidez como disse em diversos outro textos veio para ficar em nossa era,
arrasando por completo todo o tipo de envolvimento e cumplicidade de
sentimentos, afora a própria natureza conflituosa dos relacionamentos; sendo
assim, é mister que tentemos preservar nossa característica humana de
cooperamos e crescermos juntos não abrindo mão da satisfação de todas as partes
envolvidas na convivência.
Site dedicado a todos os meus pacientes
que acreditaram e acreditam em minha conduta e criatividade.